30.11.09

guardam-se as cartas
numa lata
e vão morar na lata
as fotos
que saíram
de um mural
um porta retrato
um lugar especial

quando se tem tempo
tem-se a lata cheia

minha lata está vazia
não houve tempo pra guardar

chão
(Mário Laginha/Maria João)


De manhã até à noite
A mulher traz os pés (doridos?),
Está curvada sobre si
Seios pendendo para o chão
Canta baixinho
Mas a voz foge no campo
Levanta a névoa da manhã

Corre e canta e torna e canta mais
E a terra jura que não ouve
Acorda o chão adormecido
E um sol redondo que subindo
A (maravilha)? sempre a cega
Tornando-a fogo e calor
Secando a boca da mulher.

Ai, quem dera o regaço de um homem
Pela noite fresca e desejada
No pulsar surdo dos pulmões
E o suor escorre pelo corpo
Num abandono da vida
Que se esgota
Acorda o chão adormecido.

De manhã até à noite
A mulher traz os pés sofridos
Está curvada sobre si
O olhar que paira rente ao chão
Canta baixinho
Mas a voz foge no campo
Embala a terra adormecida.

29.11.09

boa sorte. bom dia

a vida não espera
o tempo não pára
o futuro com pressa
atrás de toda janela
a cada comecinho de dia

mas, vê?
a vida também tem pausa
respira
e é cheia de boa rima

alegria. sonho. gozo. sintonia.
cheiro. afago. poesia.
tesão. calor. energia.
mar. amor. maresia.
aconchego. teu colo.
meu dengo, bom dia!

Nem todo dia inspira uma boa poesia, mas já uma alegria poder saber acordar assim um único dia. Quem dera fossem todos assim...